João Batista Correia Nery

  • DOM NERY O BISPO DAS CRIANÇAS

  • Quem passa desavisadamente em um pequena rua quase paralela com a Av. Armando de Salles Oliveira, no Bairro Taquaral, mais precisamente no número 240 da Rua Paulo de Almeida Nogueira e ouve as vozes inocentes de mais de duzentas crianças felizes a brincar, não conhece a bela história  da Instituição que se encontra atrás das cercas coloridas do INSTITUTO DE MENORES DOM NERY, fundado em 29 de Janeiro de 1933.

    A grande Dama da Sociedade Campineira, senhora HELENA DE CAMPOS SILVEIRA doou à Diocese de Campinas uma elevada importância em dinheiro, destinada a uma Instituição Católica que cuidasse de crianças abandonadas. Dom Paulo de Tarso Campos, Bispo Diocesano, adquiriu com este dinheiro uma área com cerca de 26.000 metros e ali iniciou a construção da entidade prevista pela doadora.

    O nome do Instituto de Menores Dom Nery foi conferido à Associação por ocasião da Assembléia Geral realizada em 22 de janeiro de 1975.   Em 2004, foi alterado o nome da entidade, ou seja, de Instituto de Menores Dom Nery para INSTITUTO DOM NERY, em razão da mudança de atendimento da faixa etária. O Patrono do Instituto não poderia ser outro senão o Primeiro Bispo de Campinas, o “Bispo das Crianças” dado seu amor aos pequeninos. JOÃO BATISTA CORREIA NERY – nascido em 06 de Outubro  de 1863, à Rua Formosa, hoje Rua Conceição, centro, Campinas/SP filho do sapateiro Benedito Correia de Morais e sua mulher, Maria do Carmo Nery.

    Foi batizado no dia 15 de outubro do mesmo ano conforme assento de batismo: “Aos dias quinze de outubro de mil oitocentos e sessenta e três, nesta Matriz de Campinas, baptizei e puz os Santos Óleos a João de idade de nove dias, filho legitimo de Benedicto Corrêa de Moraes e Maria do Carmo Nery. Padrinhos: Manoel Benedicto Corrêa e Maria Tereza de Moraes, todos desta Parochia. – O Coadjutor Vigário interino, Sabato Antonio Deluca.”

    Iniciou seus estudos em Campinas, depois foi para são Paulo. Jovem, aos 17 anos, revelou seus dotes pelas artes cênicas, escrevendo o drama “Pai e Filho”, estreada em agosto de 1880, no Teatro São Carlos – Campinas. O teatro, o distinguiu durante toda a vida que fez dele um grande orador. Sua vida religiosa começou cedo. Foi ordenado presbítero por Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, então Bispo de São Paulo, em 11 de abril de 1886. Após lecionar no Seminário por alguns meses, foi nomeado Vigário Colado, por rubrica de Sua Alteza a Princesa Imperial Regente Isabel, da Matriz Velha, que nessa época era Igreja paroquial de Nossa Senhora do Carmo de Santa Cruz, atual Paróquia Nossa Senhora do Carmo,onde permaneceu de 1887 a 1894.

    CRIAÇÃO DO BISPADO EM CAMPINAS

    Campinas teve sua fundação determinada pelo então Governador de São Paulo Luís António de Sousa Botelho Mourão – o MORGADO DE MATEUS com as seguintes orientações: “porquanto tenho encarregado a FRANCISCO BARRETO LEME formar uma povoação na paragem chamada CAMPINAS do Mato Grosso, distrito de Jundiaí, em sitio onde se achar melhor comodidade..”

    A vida religiosa católica de CAMPINAS teve início oficialmente em 14 de julho de 1774, com a Celebração da Primeira Missa em uma capela improvisada pelo Frei ANTONIO DE PÁDUA  primeiro vigário da cidade.

    No Pontificado do Papa Leão XIII, nos fins do século XVIII, surgiu a idéia da criação da Diocese de Campinas. Esta, foi criada por ordem do Papa Pio X ocorrida a 7 de junho de 1908. Dom João Batista Correia Nery, foi um dos que fez grandes esforços para a realização de tamanho sonho, inclusive com um desprendimento digno mesmo de uma grande alma. Em carta que dirigiu ao ministro do Brasil junto à Santa Sé, escreveu textualmente: “Como recompensa apenas pediria ao Santo Padre um favor: não ser Bispo de Campinas em hipótese alguma. Não desejo que paire sequer a suspeita de que trabalhei por Campinas buscando colocação para mim. Deus sabe a pureza da intenção com que me esforcei por essa criação, mas, os homens talvez não vejam essa pureza”.

    Com a criação da Diocese em Campinas tomou posse como primeiro Bispo o próprio Dom João Batista Corrêa Nery, no dia 1º de novembro de 1908. Seu Lema Episcopal Spiritus Domini Ductor  – O Espírito do Senhor me Conduz. Ao retornar a Campinas, trazia a experiência de outros dois bispados em 1896 foi nomeado primeiro Bispo de Vitória/ES, em 1901 passou a Primeiro Bispo de Pouso Alegre/MG, e a 03 de Agosto de 1908 foi eleito PRIMEIRO BISPO DE CAMPINAS.

    REALIZAÇÕES COMO PRIMEIRO BISPO

    Entre as realizações como Bispo na cidade de Pouso Alegre/MG, destaca-se a Ordenação a sacerdote do PADRE DONIZETE, em 12 de Julho de 1908 que agora em novembro de 2019 foi Beatificado Pelo Papa Francisco. Outras atividades foram, em 1º de janeiro de 1902, fez publicar o órgão católico da Diocese, a “Semana Religiosa”; em março de 1902, abriu-se a Escola Diocesana para instrução primária dos menores pobres;

    No dia 8 de abril de 1902, chegaram à Pouso Alegre as Irmãs da Visitação, que abriram um Colégio para meninas no dia 2 de junho em um prédio provisório, lançando-se a primeira pedra do edifício definitivo no dia 24 de maio de 1903; em 15 de janeiro de 1903, começou a ser publicado o “Mensageiro Eclesiástico“, revista mensal destinada ao clero. Estas são algumas das realizações em uma extensa lista de trabalho no pouco tempo que viveu naquela cidade. Já em Campinas a marca deixada por ele é sentida mais de cem anos depois de sua partida. Não por acaso, que seu nome é lembrado e homenageado com orgulho pelos Campineiros. Rua, edifício, Colégios, Instituição e em 1956 quando da Fundação da Academia Campinense de Letras por um grupo de intelectuais liderados pelo Professor Francisco Ribeiro Sampaio, escolheram para Patrono da Cadeira número 02, o nome do Padre, perpetuando seu nome em uma Instituição Cultural, ele que era ligado as Artes, chegando a pertencer ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e também um destacado autor Teatral.

    Em solo Campineiro promoveu a criação da Creche Bento Quirino, da Escola Agrícola.  Fundou ainda em Campinas o Seminário e o Colégio Diocesanos, alem do Jornal Católico o “Mensageiro”.  O trabalho que mais se identifica com Dom Nery, por seu caráter humanitário é a fundação do Liceu Salesiano quando ainda não era Bispo, mais um homem preocupado com o destino dos órfãos que ficaram abandonados pelas ruas durante a terrível epidemia da febre amarela que dizimou Campinas. O colégio foi fundado em 1897 por Dom Nery juntamente com Dona Maria Umbelina Alves Couto, O prédio foi construído em terras doadas pelos  Barões Geraldo de Rezende e por Francisco e Amélia Bueno de Miranda. Outra obra que tem o DNA de Dom Nery, na mesma época da fundação do Liceu Salesiano, o Padre Luiz Gonzaga Giudici tencionava abrir no centro da cidade uma escola para onde se transferisse ensino técnico e profissional ministrado no Liceu ficou então resolvido que se abriria um Externato de ensino primário, um Oratório festivo e uma capela pública. Dessa forma, atendia-se também ao pedido de Dom João Batista Correia Nery, grande amigo dos Salesianos, e que então havia sido transferido para a Diocese de Campinas, sua terra natal, como Primeiro Bispo. E em  sua homenagem a nova obra chamou-se Externato São João, sendo o oratório festivo inaugurado no dia 24 de junho de 1909.

    Em 1º de Fevereiro de 1920, faleceu Dom Nery, aos 57 anos, vítima de um tumor no fígado. Foi sepultado na Catedral Metropolitana e em 1923 foi transferido para a cripta construída  na mesma Igreja.

    Logo após sua morte foi realizada uma campanha para angariar fundos para a construção de um Monumento que recordasse os seus feitos. O trabalho foi realizado pelo escultor sueco-brasileiro August Ferdinand Frick (1878-1960), colocado na Praça José Bonifácio (Largo da Catedral) e, inaugurado em 1° de novembro de 1924, onde se destaca na parte inferior do monumento a Instrução e a Caridade  praticas que nortearam a vida do “Bispo das Crianças”.

     

    BIBLIOGRAFIA

    MARIANO, Júlio. “A Diocese de Campinas e os seus ilustres antístes”, pp. 371-374. Em: Monografia histórica do município de Campinas. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.

    PIRES, Mário. Campinas, sementeira de ideais (vultos e tradições), I. Limeira, Letras da Província, 1981.

    TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Academia Campinense de Letras. Patronos, fundadores e titulares. Campinas: Komedi, 2006.

    Sara Valadares, cadeira nº 47 do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas